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O final dos relacionamentos afetivos pode ser de altíssimo risco de vida para as mulheres. As estatísticas mostram que o aumento de feminicídios é mais um dos tristes efeitos trazidos pela pandemia. O número de rompimentos e separações também avançou nesses últimos meses. A convivência diária e ininterrupta fez com que os problemas conjugais tenham surgido ou simplesmente se intensificado.
A regularização dessas situações, num primeiro momento, passa pelos escritórios de advocacia. Nós, advogados, testemunhamos o início das separações e depois atuamos nos processos, o que nos torna responsáveis pela busca da pacificação entre as partes. Precisamos ter uma postura conciliatória, não somente no intuito da celeridade processual, mas especialmente porque o acirramento dos ânimos pode trazer resultados nefastos, inclusive a prática do feminicídio.
Os tristes e rotineiros casos trazem como vítimas mulheres que tentavam romper os seus relacionamentos ou tinham consolidado isso há pouco tempo. Invariavelmente, o criminoso é aquele ex-companheiro que não aceitou esse rompimento, sendo que sua revolta é ainda maior quando a mulher assume uma nova relação.
O triste resultado é a morte. E a vingança também atinge os filhos, vítimas de um trauma incurável, quando também não perdem a vida junto com a mãe. O ato suicida do assassino comumente também integra esse cenário.
Na maior parte das vezes é a mulher quem toma a iniciativa da separação. Faz parte da natureza feminina buscar a organização da sua vida lutando por um recomeço, o que exige coragem. Se antigamente um dos maiores obstáculos para essa decisão era o preconceito social, hoje essa atitude é protelada pela vulnerabilidade financeira, emocional, pela proteção aos filhos ou simplesmente pelo medo.
A violência doméstica é uma chaga social. O seu combate tem sido feito através da legislação especial, delegacias especializadas, patrulhas protetivas e campanhas educativas. Os resultados, porém, ainda são muito tímidos. É preciso muito mais.Todos devemos nos engajar nessa luta, onde o único remédio é a prevenção. Familiares e amigos não podem se omitir e devem oferecer proteção. As pessoas que se envolvem no momento das separações precisam se conscientizar da importância de seu papel. Isso passa por um olhar cuidadoso do julgador, do promotor, e de toda a equipe multidisciplinar que atue nos processos litigiosos.
Mas cabe especialmente aos advogados, confessores de seus clientes, a efetiva prática conciliatória. A advocacia combativa, agressiva, que busca retardar processos e ganhar vantagem patrimonial, não tem mais lugar. É preciso a união e a colaboração entre os profissionais de Direito que atuam nos lados opostos. O acordo conciliatório é, e sempre será, o melhor caminho nas varas de família.
A próxima vítima da página policial pode ser sua colega, sua vizinha, sua parente, ou apenas mais uma desconhecida. Mas também poderá ser a sua cliente. E talvez você pudesse ter evitado.